Transição para a Era Moderna: A Reforma Religiosa e o fim do monopólio católico sobre os cristãos

A Reforma Religiosa (séculos XIV à XVI): a divisão da cristandade em diversas religiões.

Introdução

No último capítulo de nossa reflexão sobre a Idade Média estávamos a pesar: Qual a importância do Renascentismo para a decadência (diminuição) do poder da Igreja na Idade Média?

A pergunta que nos ajudará a caminha agora será outra: Qual a importância da Reforma Religiosa para a decadência (diminuição) do poder da Igreja na Idade Média?

Mas antes de responder esta primeira questão vamos responder uma primeira mais simples, afinal para subir para o segundo degrau temos que passar antes pelo primeiro. Pois, então, que assim seja: O que foi a Reforma Religiosa?

Vamos buscar resposta em alguns documentos do período. Começaremos, então, com um trecho da obra de Erasmo de Roterdã (1466-1536), o Elogio da Loucura (1509) fácil de achar hoje em bancas de jornal com um precinho módico de 12 reais se pesquisarem bastante.

Bem, mas antes faremos um combinado. Eu da minha parte publico abaixo o trecho do livro Elogio da Loucura (documento) e você querido aluno, ou aluna, pesquisará sobre a BIOGRAFIA DO ERASMO DE ROTERDÃ?

Se você, portanto, já ganhou o espírito científico de Leonardo da Vinci, inteligentíssimo, por ser curioso, e como bom curioso cheio de dúvidas, sempre aplicado em fazer perguntas para achar respostas para as mesmas, acabou de fazer esta pergunta: “Porque professor é importante saber sobre a biografia de Erasmo de Roterdã?”

Muito simples a resposta e já vimos isto. Fazemos tudo aquilo que pensamos. Um livro, então, é a concretização do pensamento do seu autor. Chegamos ao autor lendo os seus livros, mas não só os lendo, porque um escritor não escreve somente livros. Ele vive. Faz muitas outras coisas. Algumas importantes, outras nem tanto. De qualquer forma, para entender sobre a obra de um autor, temos de também estudar tudo aquilo que ele faz e não aparecem em um livro, logo temos de estudar a vida do mesmo.

Documento: TRECHO de O ELOGIO DA LOUCURA, de Erasmo de Roterdã.

"Que diria Jerônimo se pudesse ver o leite da Virgem exibido por dinheiro, recebendo tanta veneração quanto o corpo consagrado de Cristo; óleos milagrosos; os fragmentos da verdadeira cruz, suficientes, se fossem reunidos, para fabricar um grande navio? Aqui temos o capuz de São Francisco, ali a saia de Nossa Senhora, ou o pente de Santa Ana... não apresentados como auxiliares inocentes da religião, e sim como a substância própria da religião - e tudo pela avareza dos padres e hipocrisia dos monges que brincam com a credulidade do povo." (ERASMO apud Will Durant. A Reforma. Rio de Janeiro: Record, [ s.d.] , p. 239).

QUESTÕES

Quem, Erasmo de Roterdã, está criticando acima?

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As pessoas as quais Erasmo de Roterdã critica são da Igreja Católica Romana? JUSTIFIQUE COM PALAVRAS DO TEXTO.

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Como pudemos ver acima, Erasmo não está muito satisfeito. Como ele, diversos foram os monges, sacerdotes, teólogos e universitários que entre os séculos XIV e XVI criticaram a Igreja Católica Romana.


Mas o que exatamente era criticado em relação à Igreja Católica Romana entre os séculos XIV e XVI?

Bem, a forma como a Igreja Católica Romana agia. Vamos ver se vocês concordariam com estas práticas.

Como já estamos carecas de saber, a instituição que se dizia ser a guia das pessoas para o Paraíso Celeste seria a Igreja Católica Romana.

O fato das pessoas acreditarem cegamente nisto, a ponto de assassinarem pessoas na fogueira por crerem que as mesmas estavam endemoniadas; e matar (segundo a própria Bíblia um gravíssimo pecado) outras tantas em nome de Deus, como fizeram nas Cruzadas, nos mostra o tamanho do poder de manipulação sobre os fiéis que a Igreja possuía na Idade Média.

Com tanto poder concentrado, pelo fanatismo da fé dos cristãos na Idade Média, vemos facilitada a prática de diversos abusos pela Igreja.

Com uma vida que era um verdadeiro inferno (marcada pela guerra, fome e doença), os cristãos (que também acreditavam na imortalidade da alma) não queriam nem imaginar outro destino para a sua alma que não fosse a salvação e a ida para o Paraíso.

No entanto, uma vida sem aquilo que a Igreja Católica Romana considerava ser pecado era praticamente impossível. Ainda sim para esta instituição, que se colocava como a guia da humanidade para o Paraíso, algumas pessoas iam diretamente para o Céu. Outras, diretamente, para o Inferno. Por fim, aquelas que tivessem praticado alguns pecados, iriam para o Purgatório para lá passarem por um período até estarem aptos para a entrada no Céu.

Como haviam muitas pessoas preocupadas com o tempo que pudessem passar no Purgatório, a Igreja vendia indulgências para diminuir o tempo de espera. Deste modo, não bastava cumprir todos os sacramentos e boas ações que a Igreja colocava como necessárias para obter a Salvação da Alma e entrar direto no Paraíso (Céu). As doações em dinheiro para a Igreja facilitavam o ingresso tão pretendido pelos cristãos da Idade Média.

Mas não era somente a venda da entrada no Céu pela Igreja Católica Romana, que os reformistas religiosos (protestantes) criticavam. Tal como Erasmo, a venda de cargos religiosos, o tamanho da riqueza da Igreja, o pagamento para ser perdoado pelos pecados, a venda de relíquias (o leite da Virgem Maria, pedaços da Cruz de Cristo, roupas e ossos de santos, etc) era duramente condenada.

Xilogravura representando a venda de indulgências no século XVI de Jorg Breu the Elder.

QUESTÕES

Quais são as relíquias vendidas pela Igreja Católica Romana que Erasmo de Roterdã nos apresenta em seu texto?

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Breve conclusão

Introdução

Bom, já vimos rapidamente, que aquilo que os chamados protestantes criticavam na forma como a Igreja estava agindo nos séculos XIV à XVI, podia ser resumido com as vendas de indulgências e de relíquias.

Vamos acrescentar a isto: a grande riqueza acumulada pela Igreja e o modo de vida do clero (muitas pessoas do clero eram acusadas de serem casadas e/ou terem cometido estupro).

Fora isto, novos setores como o dos comerciantes, mostravam incômodo com a Igreja, principalmente porque a instituição religiosa condenava o lucro e o acúmulo de riquezas praticadas pelos mesmos.

Por sua vez, para reis e nobres seria muito interessante apropriar se das rendas da Igreja, de suas terras, tal como, arruinar o poder político da Igreja.

São contra estes problemas que diversos movimentos se voltaram. Vamos conhecer, portanto, alguns destes movimentos, seus líderes e ações.

Movimentos Reformistas: alguns exemplos de movimentos protestantes e a reação da Igreja Católica Romana

No século XIV ser acusado de heresia, no caso, ser e/ou praticar doutrina diferente daquela pregada pela Igreja, era um motivo para ser queimado vivo, enforcado ou afogado em público.

Este foi o fim de diversas pessoas que foram mortas pelo fanatismo religioso e institucional alimentado pela Igreja.

Como, por exemplo:

1))) Jan Huss (1369-1415), condenado a queimar vivo na fogueira por ter dito heresias como a da frase atribuída ao mesmo, logo a seguir: “ninguém é representante de Cristo nem de Pedro se não imitar os seus costumes (...)”. Fonte: MARQUES, Adhemar. Pelos Caminhos da História. Curitiba: Ed. Positivo, 2005

Note que ao se falar que “ninguém é representante de Cristo nem de Pedro” Huss ataca diretamente a Igreja Católica Romana, pois ela se considerava representante de ambos. Mais que isto, com estas palavras, é como se ele tornasse a Igreja e os seus sacerdotes (do papa aos padres), uma instituição inútil, dado que, bastaria, segundo Huss, a qualquer um imitar os costumes de Cristo e Pedro, costume este que o mesmo diz não ser imitado pela Igreja, para alcançar a graça da Salvação e o Paraíso.

Não, por acaso, foi queimado pelo fanatismo religioso da Igreja Católica Romana, pois a mesma viu como altamente perigosa as palavras de Jan Huss, pois se cada um praticasse individualmente a sua fé e alcançasse o Paraíso com isto, a Igreja perderia completamente poder que só tinha conquistado por se colocar como a guia das pessoas para o Paraíso.

Wycliffe lendo a tradução Bíblia, quadro de Ford Madox Brown (1821 – 1893).

2))) Outro exemplo, que teve um papel de grande importância dentro do movimento protestante foi John Wycliffe (1320-1384), teólogo formado na Universidade de Oxford, inspirou muito o teólogo e reitor da Universidade de Praga, Jan Huss (que acabamos de comentar). Wycliffe não poupou ninguém em sua época.

Criticou a venda de indulgências, a hierarquia da Igreja e defendeu que a vida de um cristão deveria basear-se exclusivamente na Bíblia e não na fidelidade do fiel a Igreja. Também não poupou a riqueza dos burgueses e donos de terra, sendo, portanto um defensor dos pobres.

Wycliffe foi o primeiro tradutor da Bíblia para o inglês e acreditem alunos e alunas, isto não foi pouca coisa.

“- E por que não?” Porque os exemplares que circulavam da Bíblia só estavam escritos em latim, língua que poucos conheciam. Mas era ainda pior, pois a missa também só era rezada em latim, e não importava o reino ou o país onde ela fosse realizada.

Daí se a curiosidade está fazendo a sua cuca formigar pergunte-se: “- Mas qual a importância, pro, da missa ser rezada em uma língua que as pessoas não entendem?”

Não se preocupe que eu respondo. Bem, como nós já estudamos quando trabalhamos alguns conceitos, tem poder aquela pessoa, ou aquela instituição que possui uma ou mais pessoas dependendo de si. Por sua vez, quem depende de alguém não tem poder.

As pessoas do período medieval acreditavam no Paraíso. Do mesmo modo, acreditavam naquela que se considerava a única capaz de guiá-los até o Paraíso, pois sozinhos não saberiam encontrar o caminho. Deste modo, as pessoas da Idade Média dependiam da Igreja.

O caminho para o Paraíso estava na Bíblia. Mas a Igreja não permitia que outras pessoas a lessem, embora isto fosse facilitado pelo imenso número de analfabetos na Europa medieval. Enfim, sem o conhecimento para ler a Bíblia as pessoas jamais encontrariam o caminho. No entanto, haveria alguém que pudesse fazer isto por eles? É claro: a Igreja se dava este papel.

Para fechar a discussão, quando temos a tradução da Bíblia para as línguas nacionais (inglês, francês, português, etc) aumenta a possibilidade das pessoas aprenderem sobre as “Sagradas Escrituras”. (A criação das tipografias revoluciona a produção de livros na Europa, fazendo com que os livros que antes eram monopolizados pela Igreja, circulem por toda Europa).

Deste modo, não é por acaso, que os primeiros movimentos protestantes ocorreram em Universidades.

RESUMO

Os movimentos protestantes criticam as ações Igreja

Quais ações?

=

A venda de indulgências

+

A venda de relíquias

+

A riqueza da Igreja

+

O modo de vida do clero

Propõem soluções

Quais soluções?

Soluções que no geral tornam a Igreja Católica Romana uma instituição desnecessária para a Salvação da alma e a ida para o Paraíso.

Como os reformadores justificam esta solução?

Dizendo que não é a Igreja a guia para o Paraíso, mas sim a Bíblia.

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Desafio

Retrato de Martinho Lutero de Lucas Crunald, 1525.

Martinho Lutero (1483-1546) foi um monge do que hoje chamamos de Alemanha. Reformista, foi excomungado pelo papa Leão X. Também traduziu a bíblia para a língua nacional (alemão) e escreveu trabalhos de teologia. Foi muito influente no século XVI, causando grande abalo na comunidade católica por ter influenciado muitos movimentos protestantes na Europa que acabaram dividindo a cristandade entre a Igreja Católica e os protestantes. Só não foi queimado porque contou com o apoio de príncipes “alemães”, tal como, de parte da população. Era um defensor da hierarquia social.

Enfim, uma das suas famosas obras foram as 95 teses que pregou em outubro de 1517 nas portas da Igreja de Wittenberg. Abaixo temos algumas destas teses:

“(...) Tese 36: Não importa qual cristão, se está verdadeiramente arrependido terá plena remissão da pena e da culpa; ele consegue isto por ele mesmo, sem a carta de indulgência.

(...)

Tese 43: Os cristãos devem aprender que dando aos pobres ou emprestando aos necessitados procedem melhor que comprando indulgências.

(...)

Tese 62: O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.” Fonte: BAYLAC, Marie-Hélène; ICHER, François. Histoire ET Géographie 5. Paris: Bordas, 2005.

RESPONDA: Lendo os trechos das 95 teses de Lutero, onde podemos encontrar as críticas que nos permitem dizer que ele foi um reformador protestante? Justifique a suas resposta com passagens do texto.

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Autoria do Texto: Alek Sander de Carvalho

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