Documentos para análise: A Ditadura Militar no Brasil - 1964 - "1989"

Um tributo aos homens, mulheres e crianças que em idade diversa foram vítimas de um Estado Autocrático, governado por senhores de farda e coturno em conjunto com outros sujeitos de black-tie e lustrosos sapatos.

Foi um horror os anos que se estenderam entre 1964 e 1989, décadas onde o terror era pratica autorizada pelo Estado, até quando ocorria em localidades distantes do centro, onde os gritos e a humilhação ao outro não podiam ser ouvidas.

Enfim, se se perde a memória do terror não se pode ter aversão pelo mesmo no presente ou no futuro. Do mesmo modo, sem imaginação para sentir na pele a dor do outro abre-se espaço para todo e qualquer tipo de barbárie.

Abaixo seguem alguns relatos de pessoas vitimadas pela ditadura militar ocorrida no Brasil para análise em sala de aula. Todos foram retirados do livro: Brasil Nunca Mais. RJ: Editora Vozes, 1985.

Alek Sander de Carvalho

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Relato do Capítulo Lesões Físicas
[Relato de Manoel Conceição dos Santos, 35 anos, agricultor, Ceará, auto de interrogatório, 1972]
(...) foi o interrogado tirado do hospital, tendo sido novamente pendurado em uma grade, com os braços para cima, tendo sido lhe arrancada a perna mecânica, colocado um capuz na cabeça, amarrado seu pênis com uma corda, para impedir a urina; (...) Que, ao chegar o interrogado à sala de investigações, foi mandado amarrar seus testículos, tendo sido arrastado pelo meio da sala e pendurado para cima, amarrado pelos testículos; (...)

Relato do Capítulo Mulheres Torturadas
A engenheira Elsa Maria Pereira Lianza, de 25 anos, presa no Rio, narrou em seu depoimento, em 1977:
(...) que a interrogada foi submetida a choques elétricos em v´rios lugares do corpo, inclusive nos braços, nas pernas e na vagina; que o marido da interrogada teve oportunidade de presenciar essas cenas relacionadas com choques elétricos e os torturadores amplificavam os gritos da interrogada para que os mesmos fossem ouvidos pelo seu marido; (...)

Relato do Capítulo Intimidação pela Tortura
A assistente social Ilda Brandle Siegl, de 26 anos, declarou em seu depoimento no Rio, em 1970:
(...) (o) que mais influiu no ânimo da depoente foi o fato de ser mostrado a ela um rapaz, que hoje sabe ser Flávio Melo e que se encontrava arrocheado no braço e com o rosto inchado, e disseram à depoente que, se não concordasse em colaborar, ficaria igual a ele; (...) que disseram a ela que a tortura ali era científica, não deixava marca; que foi espancada e despiram a depoente e provocaram choques elétricos; que, enquanto aplicava choque, o Dr. Mimoso abanava a depoente para que a mesma não desmaiasse; que havia pausa a critério médico; que aplicaram choques nos seios, no umbigo e na parte interna das coxas; que, após, foi jogada numa cadeira, já que não podia ficar de pé; (...)

Relato do Capítulo Intimidação pela Tortura
Descrição semelhante encontra-se no auto de interrogatório e qualificação do engenheiro José Milton Ferreira de Almeida, de 32 anos, ouvido em São Paulo, em 1976:
(...) que, pior do que tudo isso, foi passar dias inteiros, por vários dias, vendo e ouvindo várias pessoas serem torturadas, crucificadas, penduradas nos registros das celas, espancadas nos corredores, gritando numa agonia indescritível; que viu pais e filhos sendo torturados, esposos e esposas serem também torturados e um sendo obrigado a torturar o outro; que viu velhos de quase 70 anos serem praticamente espancados e chegarem ao ponto de debilitamento total; que essas coisas que diz agora são uma síntese do que viveu;

Relato do Capítulo Depoimentos Forjados: confissões falsas
O engenheiro mecânico Ivan Valente, de 31 anos, declarou a Justiça Militar em 1977, no Rio, que as peças processuais apresentadas como seu depoimento na polícia não passavam de um ditado do delegado ao escrivão:
(...) que as declarações prestadas pelo interrogado no DPPS, foram ditadas pelo Delegado ao Escrivão, apesar dos protestos do interrogado, ocasião em que recebia novas ameaças de voltar ao Quartel da Polícia do Exército; que apear da maneira como foram tomadas as declarações, o interrogado assinou o termo respectivo porque dois (motivos) básicos terminaram esse seu gesto: 1) - receio de voltar a ser torturado; 2) - que aquele tipo de prova que havia sido (obtida) pela polícia, não teria valor jurídico nenhum; que apesar de não ser técnico no assunto, o interrogado tinha razão de que as declarações tomadas sob torturas físicas e morais não tem valor na justiça; que, até o 20º dia, após ter sido torturado, o corpo do interrogado denotava sinais de choques elétricos nas mãos, nos pés e nos órgãos genitais (...) que o interrogado assinou o termo de declaração que lhe foi apresentado na DPPS, porque ficou com receio de voltar a ser torturado no Quartel da Polícia do Exército; (...)


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